O diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil, Gabriel Galipolo, nomeado para ser o novo Presidente do Banco Central do Brasil, gesticula durante uma coletiva de imprensa sobre o relatório trimestral de inflação, na sede do Banco Central em Brasília, em 19 de dezembro de 2024. (Foto de Sergio Lima / AFP) (Foto de SERGIO LIMA/AFP via Getty Images)AFP via Getty ImagesO Banco Central do Brasil está abandonando o componente de blockchain do Drex, seu ambicioso projeto de moeda digital do banco central.
A decisão surpresa foi anunciada na conferência Blockchain Rio no Rio de Janeiro na semana passada, marcando uma correção significativa de curso para o projeto baseado em Hyperledger Besu que foi uma vez aclamado como o veículo para tokenizar o sistema financeiro do país.
Em comentários ao Valor, o coordenador do Drex, Fabio Araujo, confirmou que o componente blockchain do projeto seria descontinuado devido a desafios de escalabilidade e privacidade. O projeto, em vez disso, irá concentrar-se na simplificação da gestão de colaterais e na reconciliação de garantias para créditos, na tentativa de lançar um produto ao público até meados de 2026.
Araujo não descartou o uso de blockchain para o projeto numa data futura, caso surjam casos de uso que exijam a tecnologia descentralizada.
As Ambiciosas Origens do Drex
Drex, originalmente conhecido como o Real Digital, tem estado em desenvolvimento desde 2021, quando os primeiros grupos de pesquisa e trabalho foram comissionados. O conceito foi inspirado por um artigo de 2020 do acadêmico suíço Fabian Schar que explora a aplicação de blockchain e mercados financeiros baseados em contratos inteligentes fora de ambientes de finanças descentralizadas de nicho.
A visão original do projeto era uma estrutura em dois níveis que buscava fundir conceitos de moeda digital do banco central (CBDC) tanto grossista quanto retalhista. A primeira camada monetária seria um ambiente grossista exclusivamente para transações entre participantes autorizados - especificamente instituições financeiras reguladas que operam nós na rede controlada pelo Banco Central. A segunda seria depósitos bancários tokenizados emitidos por instituições reguladas para clientes finais.
MAIS PARA VOCÊO produto final seria um ambiente que permitiria o desbloqueio de novos produtos e serviços através de contratos inteligentes e ativos tokenizados em todo o sistema financeiro do Brasil. Construído sobre o Hyperledger Besu, esse ambiente seria compatível com a Máquina Virtual Ethereum, abrindo a porta para primitivas de finanças descentralizadas como Aave ou Uniswap serem executadas dentro de seus limites regulamentados.
Durante uma entrevista em 2024 com o podcast Brazil Crypto Report, Araujo explicou que o Drex deveria ser:
“não é apenas uma moeda digital, mas um ecossistema inteiro de serviços construídos em torno de dinheiro digital programável e ativos tokenizados.”
O Drex seria então integrado a outras inovações pioneiras pelo Banco Central do Brasil, como o sistema de pagamento instantâneo Pix, para criar um "super app" que forneceria uma visão consolidada da vida financeira dos usuários - incluindo depósitos bancários, propriedades e outros ativos.
"Drex Trilemma" Demasiado para Superar
Em meio a muito alvoroço, a primeira fase do piloto Drex foi lançada em março de 2023 com 14 consórcios operando nós, com outros dois se juntando nos meses seguintes. Os membros desses consórcios incluíam as maiores instituições financeiras do país, como Itau, BTG Pactual, Santander e Bradesco, juntamente com grandes fornecedores de tecnologia como Microsoft, AWS e Google.
Os casos de uso preliminares focaram na tokenização da dívida pública e eventualmente incluiriam financiamento comercial, liquidação interbancária, tokenização de recebíveis e muito mais.
Mas o projeto logo enfrentou o chamado "Drex Trilemma" - resolver a privacidade, escalabilidade e programabilidade dentro de um ambiente descentralizado, embora permissionado. Especificamente, o desafio em questão era garantir um nível suficiente de privacidade para cumprir as leis de proteção de dados do Brasil, ao mesmo tempo que dava ao nó de supervisão do Banco Central total visibilidade - tudo isso sem quebrar a composibilidade.
Várias soluções foram testadas, incluindo Rayls, desenvolvida pela empresa de infraestrutura Parfin, Anonymous Zether desenvolvida pelo JPMorgan e Consensys, e o Starlight da EY. Embora algumas dessas soluções tenham atendido aos requisitos mínimos nos testes, elas se mostraram muito caras e demoradas, observou Gustavo Cunha - um ex-executivo bancário brasileiro e apresentador do podcast Fintrender, em sua newsletter.
A Fase 1 do piloto concluiu-se com um relatório que articulava que o projeto precisaria de uma "grande adaptação" para se tornar, em última análise, uma infraestrutura central.
A Fase 2 do piloto começou no início deste ano e continuou a testar a privacidade, mas mesmo com "boas soluções de privacidade", Araujo explicou, a equipa concluiu que não eram robustas o suficiente para serem implementadas em produção sem mais testes.
Outros fatores parecem ter desempenhado um papel na decisão do banco de desligar o blockchain, observa Cunha. Estes incluem um enorme hack em julho que viu $200 milhões drenados das contas de reservas do Banco Central, uma mudança na presidência do banco de Roberto Campos Neto (que tinha sido o defensor do projeto) para Gabriel Galipolo, e o exemplo dos Estados Unidos de optar por não criar sua própria rede, mas sim abrir a porta para o setor privado.
"A decisão provavelmente resultou de uma combinação de fatores: a mudança na presidência do BCB, discussões internas após o recente hack massivo, os custos potenciais de operar e manter uma rede assim, e até mesmo o exemplo dos Estados Unidos, que optaram por não criar sua própria rede e, em vez disso, fornecer a estrutura legal para que o setor privado acelerasse a tokenização."
Mudança de Mensagens
O Banco Central tem gradualmente recuado na mensagem sobre a moeda digital do banco central (CBDC) no Drex desde que Galipolo assumiu a presidência da instituição no início de 2025. O objetivo tem sido reposicionar o projeto como uma peça subjacente da infraestrutura financeira que ajudará a desbloquear crédito, em vez de um sistema de blockchain complicado.
Galípolo sublinhou essa mudança em sua palestra de abertura na Blockchain Rio na semana passada. Ele enfatizou que o Drex deve ser visto como um projeto de infraestrutura financeira independente de tecnologia, e não como uma iniciativa focada em blockchain.
“Por que não estou a falar sobre DLT? Porque estamos a ganhar cada vez mais clareza e a mover-nos para a ideia de que a tecnologia tem de ser agnóstica. Queremos resolver um problema. Qual é o problema que precisamos de resolver? E qual é a tecnologia disponível e mais adequada para resolver este problema?”
Galípolo também fez questão de enfatizar que o Drex difere drasticamente dos modelos de moeda digital do banco central (CBDC) que substituem os depósitos bancários comerciais por passivos do banco central. Em vez disso, disse ele, o Drex foi projetado para complementar a estrutura monetária existente do Brasil com o propósito de facilitar o fluxo de crédito - um desafio no ambiente de empréstimos de alto custo do Brasil.
“Drex é cada vez mais uma solução, independentemente da tecnologia utilizada, que visa facilitar a colateralização de ativos para crédito e transações com menos atrito através da tokenização de ativos de contratos inteligentes.”
Reação da Indústria
Dadas as dificuldades do projeto e a alteração na mensagem, a decisão de abandonar a blockchain foi recebida com reações mistas.
Regina Pedrosa, diretora executiva da ABToken, disse à BlockNews que viu o anúncio com "preocupação e surpresa" e esperava que pudesse ser reconsiderado com uma nova rede "já considerando os pilares da privacidade, interoperabilidade e padronização."
Outros não foram tão generosos. Um executivo da indústria que falou sob anonimato disse que o projeto efetivamente enviou a indústria bancária do país em uma busca inútil.
"Este protótipo não foi gratuito. Vários acordos foram feitos. O Banco Central drenou a atenção do mercado, forçou os bancos a uma participação obrigatória, e os bancos pagaram a conta milhões em investimento... O Brasil perdeu anos."
O executivo acusou a equipe da Drex de assumir ingênuamente que poderia enfrentar alguns dos problemas mais espinhosos no blockchain.
“Se o Ethereum, com uma década de pesquisa, incontáveis equipas ZK e bilhões em incentivos, não resolveu totalmente o equilíbrio entre forte privacidade e conformidade regulatória, é irrealista pensar que um piloto de banco central — com um pool de fornecedores reduzido e uma rede fechada — iria magicamente solucioná-lo em alguns anos.”
Marcos Sarres, CEO da GoLedger, argumentou que o verdadeiro problema não era o blockchain em si, mas a escolha do Besu. Ele sugeriu que alternativas focadas em privacidade como o Hyperledger Fabric poderiam ter atendido melhor às necessidades da Drex.
Catalisador do Setor Público
A mudança de direção do Drex levanta grandes questões sobre o papel da blockchain como uma tecnologia viável para a infraestrutura financeira apoiada pelo estado, especialmente à medida que o sentimento nos Estados Unidos em relação às moedas digitais do banco central (CBDCs) durante a administração Trump está longe de ser positivo.
Ainda assim, existem externalidades positivas no experimento da blockchain Drex que estamos apenas começando a entender. Cunha, em sua newsletter, argumentou que o Banco Central tem sido a força motriz que impulsiona o setor bancário do país a explorar a tecnologia - um exercício que deve dar frutos nos próximos anos.
“Sem o impulso do [Banco Central] para esta agenda nos últimos anos, o Brasil estaria muito atrasado nesta discussão. Foi a postura proativa do Banco Central que colocou a tokenização no radar do setor financeiro e incentivou bancos, fintechs e startups a investir tempo e recursos neste campo.”
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O Brasil Abandona o Blockchain para o seu Projeto de CBDC Drex
A decisão surpresa foi anunciada na conferência Blockchain Rio no Rio de Janeiro na semana passada, marcando uma correção significativa de curso para o projeto baseado em Hyperledger Besu que foi uma vez aclamado como o veículo para tokenizar o sistema financeiro do país.
Em comentários ao Valor, o coordenador do Drex, Fabio Araujo, confirmou que o componente blockchain do projeto seria descontinuado devido a desafios de escalabilidade e privacidade. O projeto, em vez disso, irá concentrar-se na simplificação da gestão de colaterais e na reconciliação de garantias para créditos, na tentativa de lançar um produto ao público até meados de 2026.
Araujo não descartou o uso de blockchain para o projeto numa data futura, caso surjam casos de uso que exijam a tecnologia descentralizada.
As Ambiciosas Origens do Drex
Drex, originalmente conhecido como o Real Digital, tem estado em desenvolvimento desde 2021, quando os primeiros grupos de pesquisa e trabalho foram comissionados. O conceito foi inspirado por um artigo de 2020 do acadêmico suíço Fabian Schar que explora a aplicação de blockchain e mercados financeiros baseados em contratos inteligentes fora de ambientes de finanças descentralizadas de nicho.
A visão original do projeto era uma estrutura em dois níveis que buscava fundir conceitos de moeda digital do banco central (CBDC) tanto grossista quanto retalhista. A primeira camada monetária seria um ambiente grossista exclusivamente para transações entre participantes autorizados - especificamente instituições financeiras reguladas que operam nós na rede controlada pelo Banco Central. A segunda seria depósitos bancários tokenizados emitidos por instituições reguladas para clientes finais.
MAIS PARA VOCÊO produto final seria um ambiente que permitiria o desbloqueio de novos produtos e serviços através de contratos inteligentes e ativos tokenizados em todo o sistema financeiro do Brasil. Construído sobre o Hyperledger Besu, esse ambiente seria compatível com a Máquina Virtual Ethereum, abrindo a porta para primitivas de finanças descentralizadas como Aave ou Uniswap serem executadas dentro de seus limites regulamentados.
Durante uma entrevista em 2024 com o podcast Brazil Crypto Report, Araujo explicou que o Drex deveria ser:
O Drex seria então integrado a outras inovações pioneiras pelo Banco Central do Brasil, como o sistema de pagamento instantâneo Pix, para criar um "super app" que forneceria uma visão consolidada da vida financeira dos usuários - incluindo depósitos bancários, propriedades e outros ativos.
"Drex Trilemma" Demasiado para Superar
Em meio a muito alvoroço, a primeira fase do piloto Drex foi lançada em março de 2023 com 14 consórcios operando nós, com outros dois se juntando nos meses seguintes. Os membros desses consórcios incluíam as maiores instituições financeiras do país, como Itau, BTG Pactual, Santander e Bradesco, juntamente com grandes fornecedores de tecnologia como Microsoft, AWS e Google.
Os casos de uso preliminares focaram na tokenização da dívida pública e eventualmente incluiriam financiamento comercial, liquidação interbancária, tokenização de recebíveis e muito mais.
Mas o projeto logo enfrentou o chamado "Drex Trilemma" - resolver a privacidade, escalabilidade e programabilidade dentro de um ambiente descentralizado, embora permissionado. Especificamente, o desafio em questão era garantir um nível suficiente de privacidade para cumprir as leis de proteção de dados do Brasil, ao mesmo tempo que dava ao nó de supervisão do Banco Central total visibilidade - tudo isso sem quebrar a composibilidade.
Várias soluções foram testadas, incluindo Rayls, desenvolvida pela empresa de infraestrutura Parfin, Anonymous Zether desenvolvida pelo JPMorgan e Consensys, e o Starlight da EY. Embora algumas dessas soluções tenham atendido aos requisitos mínimos nos testes, elas se mostraram muito caras e demoradas, observou Gustavo Cunha - um ex-executivo bancário brasileiro e apresentador do podcast Fintrender, em sua newsletter.
A Fase 1 do piloto concluiu-se com um relatório que articulava que o projeto precisaria de uma "grande adaptação" para se tornar, em última análise, uma infraestrutura central.
A Fase 2 do piloto começou no início deste ano e continuou a testar a privacidade, mas mesmo com "boas soluções de privacidade", Araujo explicou, a equipa concluiu que não eram robustas o suficiente para serem implementadas em produção sem mais testes.
Outros fatores parecem ter desempenhado um papel na decisão do banco de desligar o blockchain, observa Cunha. Estes incluem um enorme hack em julho que viu $200 milhões drenados das contas de reservas do Banco Central, uma mudança na presidência do banco de Roberto Campos Neto (que tinha sido o defensor do projeto) para Gabriel Galipolo, e o exemplo dos Estados Unidos de optar por não criar sua própria rede, mas sim abrir a porta para o setor privado.
Mudança de Mensagens
O Banco Central tem gradualmente recuado na mensagem sobre a moeda digital do banco central (CBDC) no Drex desde que Galipolo assumiu a presidência da instituição no início de 2025. O objetivo tem sido reposicionar o projeto como uma peça subjacente da infraestrutura financeira que ajudará a desbloquear crédito, em vez de um sistema de blockchain complicado.
Galípolo sublinhou essa mudança em sua palestra de abertura na Blockchain Rio na semana passada. Ele enfatizou que o Drex deve ser visto como um projeto de infraestrutura financeira independente de tecnologia, e não como uma iniciativa focada em blockchain.
Galípolo também fez questão de enfatizar que o Drex difere drasticamente dos modelos de moeda digital do banco central (CBDC) que substituem os depósitos bancários comerciais por passivos do banco central. Em vez disso, disse ele, o Drex foi projetado para complementar a estrutura monetária existente do Brasil com o propósito de facilitar o fluxo de crédito - um desafio no ambiente de empréstimos de alto custo do Brasil.
Reação da Indústria
Dadas as dificuldades do projeto e a alteração na mensagem, a decisão de abandonar a blockchain foi recebida com reações mistas.
Regina Pedrosa, diretora executiva da ABToken, disse à BlockNews que viu o anúncio com "preocupação e surpresa" e esperava que pudesse ser reconsiderado com uma nova rede "já considerando os pilares da privacidade, interoperabilidade e padronização."
Outros não foram tão generosos. Um executivo da indústria que falou sob anonimato disse que o projeto efetivamente enviou a indústria bancária do país em uma busca inútil.
O executivo acusou a equipe da Drex de assumir ingênuamente que poderia enfrentar alguns dos problemas mais espinhosos no blockchain.
Marcos Sarres, CEO da GoLedger, argumentou que o verdadeiro problema não era o blockchain em si, mas a escolha do Besu. Ele sugeriu que alternativas focadas em privacidade como o Hyperledger Fabric poderiam ter atendido melhor às necessidades da Drex.
Catalisador do Setor Público
A mudança de direção do Drex levanta grandes questões sobre o papel da blockchain como uma tecnologia viável para a infraestrutura financeira apoiada pelo estado, especialmente à medida que o sentimento nos Estados Unidos em relação às moedas digitais do banco central (CBDCs) durante a administração Trump está longe de ser positivo.
Ainda assim, existem externalidades positivas no experimento da blockchain Drex que estamos apenas começando a entender. Cunha, em sua newsletter, argumentou que o Banco Central tem sido a força motriz que impulsiona o setor bancário do país a explorar a tecnologia - um exercício que deve dar frutos nos próximos anos.